terça-feira, 26 de outubro de 2010

Um doce sabor


Certo dia, conversava com uma amiga chamada Helena. Ela tem 78 anos, e é mãe de uma amiga dos tempos do curso normal. Como Helena também gosta de cozinhar, enquanto trocávamos algumas receitinhas, ela me contou uma história.

Helena me contou que, em determinada ocasião, trouxe de seu sítio algumas tangerinas, e, ao chegar a casa, arrumou-as em uma fruteira na cozinha. Os dias passaram e ela acabou esquecendo-se da fruta. Sua diarista, sempre que ia à casa dela, perguntava-lhe se podia jogá-las fora, pois estavam ficando murchas.

Um dia, enquanto cozinhava, Helena percebeu que a pele de seu braço estava trêmula, enrugada, flácida, e pensou: “Estou velha. Como o tempo passou!”

De repente, despertando de seus pensamentos, lembrou-se das tangerinas. Como não as encontrou na fruteira, bradou: “Aquela diarista!” Mas, acabou encontrando as frutas numa sacola, próximo à lixeira. Rapidamente, pegou-as de volta, pôs-se a descascá-las, e provou-as. Ficou maravilhada, pois, embora estivessem murchas, seus gomos eram doces como mel.

Naquele momento, sentiu o Senhor falar ao seu coração: “Está murcha e enrugada, mas tem mel nos seus gomos!” Helena sorriu, pois Deus a fez entender que, mesmo na Terceira Idade, fase em que muitos idosos se sentem inúteis, ela ainda tinha dentro de si o doce sabor do mel; doces momentos que, do alto de seus quase 80 anos, independente das circunstâncias vivenciadas, poderia compartilhar e ajudar alguém.

O doce das horas insones, das dificuldades enfrentadas no início do casamento, da traição, da rejeição, do choro escondido, das perdas, e até da solidão. O doce sabor experimentado no dia em que despertamos para a arte de criar filhos, de sofrer com eles e por eles, de educar, de zelar pela casa, pela família, pelo casamento, de estudar, conquistar, entender o outro. E ainda há mais doce para repartir.

Quanto a Helena, no dia seguinte levou as tangerinas restantes para sua igreja. Compartilhou uma com um senhor que a ajudou na saída do carro. Contou a história a ele e, mais tarde, numa reunião de mulheres. Ela é um exemplo. Aos 78 anos, mesmo sofrendo de artrose, todos os domingos tem o prazer de preparar, e de levar para a sua igreja, um gostoso bolo de cenoura.

Que essa deliciosa experiência nos ensine a olhar com mais amor, respeito e compreensão para o rosto, muitas vezes, cansado de um idoso. Essas pessoas têm uma história de vida e muita sabedoria para dividir conosco. Que o exemplo de Helena nos incentive a ser gratas a Deus por todos os momentos que Ele nos proporciona, independente do sabor que tenham.

Lilian Santos - Culinarista

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